Monday, July 23, 2007


ALEXANDRE BARBOSA DE SOUZA




mencionado por:Segio Cohn
Fabrício Corsaletti
Dirceu Villa


menciona a:iuri pereira
cide piquet
helder perri ferreira
osmar portugal filho






3 poemas


Para uma menina cega,
como uma seguiriya,

A Ti, lua minguante,
Um rastro de cheia,
Pouco importam –
Estrelas que não podes contar.

Tua primavera em flora interna;
Como externa seria?

E são mais que tuas as cores
Quando se fecham: são delas,
Abrindo-se ao amplo do céu aprendido
Em cada sombra de outra;

Pois que o escuro – o céu de agora –
É onde guardas tuas mãos.

E apalpaste o infindo e o reconheceste
Vazio e com tua força,
Insinuada no mecanismo
De pálpebras que se fecham.



Só Tu sabes:
Como aquilo guardado se mostra.


E imaginas, no teu jardim do quarto,
Todo o universo como um céu de ontem,
Repetido sem dor e sempre –
Sempre como a cor se esquece e brilha.




(Livro de poemas, 1992)


i


Caridad vive em Viñales
Numa casa cheia de árvores.
Seu quintal tem todas as frutas do Caribe
Mamei, toronja, shirimoya, níspero, fruta bomba


Mamei é um tipo de sapoti
Consistência de papaya só que cor de rosa
e um gosto cor de rosa com aquele frescor do mamão


Ela me deu um espinho de uma árvore altíssima
brotavam do tronco
Que me daria proteção de la santeria,
Que los negros utilizan los vegetales, ellos...


Ela é uma negra com mais de oitenta anos
Descendente de escravos e chineses
Sua casa é visitada por gente de todo o mundo
Que simpatiza com seu carinho e sabedoria
Que deixam seus recados nas paredes das varandas




ii




Seu pomar é antiga herança de seus avós
Ali vive com a irmã e o cunhado
Que tocava gaita de boca com seu chapéu de folhas
secas trançadas
E não falava: La vie en rose, As time goes by, Chica de Ipanema...


Disse Caridad que gosta de novelas brasileiras
Porque são mais picantes que as colombianas
Sua casa é um templo cheio de penduricalhos:
caroços amarrados em fitas
Maços de cigarro enfileirados
Fotos de jornais e revistas o papa em Cuba Roberto Carlos
....................................................................................y Fidel
Seu sorriso de mulher única e simples encabulada e senhora
Seu cabelo preso com um lenço
Ela me deu três cigarros que os meus acabaram




(Viagem a Cuba, 1999)










À margem,
Onde não caem estrelas,
Conjuga-se o vergar das vigas mestras.


À margem,
Conspiram negras miragens,
Atentas como espelhos.


À margem estão
Os insones do século,
Febris pela ausência que se nota;


Tatuada no silêncio,
Presa às costas.


(Azul escuro, 2003)






bio/biblio
Nascido em São Paulo em dezembro de 1972. Estudos de medicina, filosofia, cinema e letras. Autor de Livro de poemas (Giordano, 1992), Viagem a Cuba (Hedra, 1999), Azul escuro (A Preguiça Editorial/Hedra, 2003) e XXX (Dolle Hund, 2003), de poemas; Autobiografia de um super-herói (Hedra, 2003), novela. Editor (Cosac Naify, Ácaro), tradutor (contos de Katherine Mansfield e Jacques Prévert; poemas de Jules Supervielle, Francis Jammes, Roberto Juarróz, Alejandra Pizarnik etc.).

1 comment:

Anonymous said...

à margem de um co-autor vive um olhar no infinito.a espreita de uma visao que possa trazer um territorio.