Monday, September 04, 2006

RICARDO ALEIXO





mencionado por:Manoel Ricardo de Lima
Maria Esther Maciel
Edimilson de Almeida Pereira
Pedro Maciel
Fabrício Marques
Fabrício Carpinejar

menciona a:Prisca Agustoni

Edimilson de Almeida PereiraFrederico Barbosa
Augusto de Campos

Paula Glenadel
Maria Esther Maciel

Fabrício Marques
Ana Elisa Ribeiro
Marcelo Sahea

André Vallias


poemas:


Máquina zero

Quarto dia: entendo q
ue o que preciso, se q

uero mesmo continuar a p
erambular com alguma chance de êxito p

or uma cidade ( duas ) como Berlim, é
de sapatos de largo fôlego. Caminho ( penso e

nquanto caminho ), permeável a t
udo: ao frio sol cortante, às crianças t

urcas com seu comércio informal de b
rinquedos usados, à b

eleza sem rumo da adolescente que ( longas p
ernas abertas sobre um p

rosaico selim de bicicleta ) c
avalga o c

omeço da tarde, aos grafites que “d
ariam belas fotos”, à Topografia d

o Terror
, às ruínas, ao r
asta que me saúda ( “R

asta!” ) na Wilhelmstrasse, às l
ascas do Muro na vitrine da pequena l

oja, ao a
marelo-zoom do metrô a

pontando na curva a
ntes do teatro, à

História,


[de Máquina Zero, 2004]




Labirinto
à memória de Sebastião Uchoa Leite
Conheço a cidade
como a sola do meu pé.

Espírito e corpo prontos
para evitar

outros humanos polícias
carros ônibus buracos

e dejetos na calçada
incorporo hoje o Sombra amanhã

o Homem In
visível sexta à noite

o perigoso Ninguém
e sigo.

Como os cegos
conheço o labirinto

por pisá-lo
por tê-lo

de cor na ponta dos pés
à maneira também do que

fazem uns poucos
com a bola

num futebol descalço
qualquer. Conheço a

cidade toda (a
mínima dobra retas cada borda

curvas) e nela – à
custa de me

perder – me
reconheço.

[de Máquina Zero, 2004]







Noite


O menino viu sair
da boca da mulher,


talvez sua mãe,
uma voz estrídula


e lábil, que logo
desandou, em


cadência de
sonho, a quê?


– a enumerar
desastres já


ocorridos e por
ocorrer,


a fecundar harpias,
a frisar as marcas


da passagem da
pantera pelo


quarto, a aturdir
relógios, a


enegrecer
o sol, e outras mil


destas
proezas.


[inédito em livro]






bio/biblio
Ricardo Aleixo nasceu em Belo Horizonte, em 1960. Publicou os livros “Festim” (1992), “A roda do mundo” (1996, em colaboração com Edimilson de Almeida Pereira), “Quem faz o quê? (1999), “Trívio” (2001), “A aranha Ariadne” (2003) e “Máquina zero” (2004). Tem poemas, artigos e ensaios publicados em jornais, revistas e coletâneas do Brasil e do exterior (EUA, França, Espanha, Peru, Argentina e País de Gales). Tem, no prelo, o livro “Palavras a olhos vendo – Escritos sobre escritas”, com o qual conquistou, em 2002, a “Bolsa para escritores brasileiros com obras em fase de conclusão”, oferecida pela Fundação Biblioteca Nacional. Integra, como performer e compositor, o Combo de Artes Afins Bananeira-ciência. Em 1999, apresentou em Belo Horizonte, no Rio de Janeiro e em Mariana a exposição individual “Objetos suspeitos”. Como performer, já se apresentou na Argentina, na Alemanha, em Portugal e na França. É curador do Festival Internacional de Arte Negra de Belo Horizonte/FAN e da Zona de Invenção Poesia & (ZIP) e editor da revista RODA – Arte e cultura do Atlântico Negro. É professor da FUMEC, responsável pela disciplina Design e Som.






NÃO UMA POÉTICA: UMA HIPÓTESE
Eu nunca me perguntei seriamente o que é poesia. Creio mesmo que sequer cheguei a considerar a hipótese de um dia vir a formular uma poética, tamanha a urgência com que me lancei, desde sempre, na busca das palavras que melhor justificassem a “condição” de poeta, que me concedi sem consultar a quem quer que fosse. Em outras palavras, passei das primeiras tentativas poéticas a um estágio no qual já não se fazia imprescindível haver alguém que dissesse se o que eu fazia era ou não poesia. Mas me animo, hoje, a dizer que poesia é um pensamento, uma forma de pensar por meio das palavras. Já tensionando até quase o rompimento o fino fio que une/desune a poesia e a filosofia, arrisco-me a dizer que o bom poema (aquele, raro, que provoca no leitor/espectador uma como que desordem interna, a qual, por seu turno, reduplica a complexidade do mundo) é, senão o único, o mais eficaz meio de tornar visível o pensamento.

2 comments:

Anonymous said...

Haviam-se-lhe esgotado, perdera a voz-muda. Queria ser frio, insensível, anacoreta , sem nada no coração além de uma exultação glacial e feroz, e uma capacidade piscívora. Homo sacer! Pois bem. Humano? O homem é também quando acha oportunidade, um pantagruel frio e feroz como os Sade-Rabelais-Safo, tomado de um imperturbável desejo de fugir à saciedade da vida humana – morte-sobre-vida, mas para adquirir esse vigor crepitante e confiante dos povos do ar

Anonymous said...

Ricardo Aleixo: preciso do seu e-mail, e de um supremo letrista de MPB

sergiomanto@hotmail.com